CAPÍTULO 3: Use a pirâmide invertida!
A Internet não apenas resgatou a importância da pirâmide invertida como a melhor estrutura para apresentar textos, como também abriu a possibilidade de que o próprio usuário a construa.
Em março de 2008, Roy Peter Clark, professor do Poynter Institute, centro de pesquisa e formação em jornalismo com sede na Flórida (Estados Unidos), incluiu a pirâmide invertida numa lista de “maravilhas do mundo jornalístico”. A linha que explicava a escolha dizia simplesmente: “Como as pirâmides do Egito, ela passou no teste do tempo”.
Ironicamente, essa distinção vem num momento no qual, em muitas redações do mundo, se diz que a pirâmide invertida ficou fora de moda, sendo substituída por outras técnicas narrativas – uma posição absolutamente polêmica. Em alguns casos, o resultado do uso dessas técnicas narrativas é tão pobre (em essência, dilui a informação), sobretudo no ambiente online, que seria possível falar da transição “da pirâmide invertida à pirâmide pervertida”.
Neste capítulo, acompanharemos a construção de textos, desde os mais simples, estruturados segundo a definição de pirâmide invertida e publicados numa só página da Web, e que são em essência lineares (herança do mundo impresso, mas que se saem muito bem online), até os mais complexos, que tiram proveito do potencial de interligação da Web e permitem uma leitura não linear. Quando nos referimos a ‘simples’ e ‘complexos’, não queremos sugerir que um é melhor que o outro. Fazemos referência apenas ao trabalho que sua elaboração exige do autor/editor. Assim,
apresentaremos o conceito de estratificação da informação.
3.1 Definição de pirâmide invertida
Utilizar a estrutura de pirâmide invertida, na definição tradicional, significa começar o texto com a informação mais importante e depois prosseguir na ordem decrescente de importância.
Nielsen descreve a estrutura de uma forma sutilmente diferente: “Comece o artigo contando a conclusão aos leitores, siga com a mais importante informação de apoio e termine dando contexto. Esse estilo é conhecido como pirâmide invertida pela simples razão de que vira do avesso o estilo tradicional de pirâmide”.
Melvin Mencher, autor do livro clássico de jornalismo ‘News Reporting and Writing’, identifica os seguintes elementos na estrutura da pirâmide invertida:
- A entrada, ou ‘lead’.
- O material que explica e amplia o ‘lead’.
- Parágrafos de contexto.
- Material secundário ou menos importante.
(O termo ‘lead’ vem da palavra inglesa que significa ‘liderar’ ou ‘conduzir’: “É, portanto, o parágrafo inicial que ‘conduz’ tanto o jornalista para desenvolver em seguida a informação, quanto o leitor no conhecimento do fato. Assim se constitui na porta de entrada da notícia”, diz o Manual de Redação do jornal ‘El Tiempo’, da Colômbia. Outros definem essa abertura como a resposta às ‘6 perguntas’ (quem, quê, quando, como, onde e por quê) ou parte delas.
Estrutura da pirâmide invertida
Para marcar o contraste com outras formas de apresentar conteúdos, basta lembrar que os artigos científicos se estruturam de tal forma que as conclusões são a última coisa a ser publicada, depois de itens como a introdução, os objetivos, a justificativa, a metodologia, etc. Da mesma forma, quando um tribunal de Justiça emite uma sentença, a decisão fica para a última página, depois de várias em que se faz o que se chama ‘considerandos’. Quando um desses artigos científicos ou decisões judiciais cai nas mãos de um jornalista, o insumo básico para arrancar a versão jornalística quase sempre está na última página, nas conclusões ou na sentença.
3.2 Justificativa do uso da pirâmide invertida para apresentar conteúdos na Web
Segundo Mencher, a pirâmide invertida permaneceu porque satisfaz as necessidades dos usuários dos meios de comunicação. “Os leitores desejam saber o que aconteceu, assim que a matéria começa a se desenvolver. Se for interessante, prestarão atenção. De outra forma, irão a outro lugar. As pessoas vivem ocupadas demais para parar sem nenhuma recompensa”, diz. Embora Mencher não tenha feito essa afirmação na versão original de seu livro em referência a textos escritos para a Internet, e sim a textos impressos, essa forma de apresentar conteúdos é a que mais se ajusta ao ambiente digital e satisfaz as necessidades dos usuários tanto nas páginas iniciais, resultados de buscas e canais RSS, como em boletins enviados por e-mail.
A origem da pirâmide invertida está ligada à invenção do telégrafo, em 1837, e à preocupação de que a transmissão pudesse ser cortada. Tratava-se de entregar a mensagem o quanto antes. Uma lógica similar funciona na Web: a idéia é que, no instante (menos de um segundo, segundo o EyeTrack III) em que um título captar a atenção do usuário, ele deve ser suficientemente eloquente para dizer de que trata a informação ou matéria (aqui incluímos áudio e vídeo, normalmente apresentados por linhas de texto), para ver se vale a pena lê-la, assisti-la ou ouvi-la ao clicar no link.
“A redação em pirâmide invertida é útil para os jornais porque os leitores podem parar a qualquer momento tendo lido as partes mais importantes do artigo”, dizia Jakob Nielsen no trabalho ‘Pirâmides invertidas no ciberespaço’, ‘Inverted Pyramids in Cyberspace’ (http://www.useit.com/alertbox/9606.html), de 1996. “Na Web, a pirâmide invertida chega a ser até mais importante, já que sabemos por vários estudos que os usuários não rolam a tela, e portanto muito frequentemente eles leem só a parte superior do artigo. Os usuários muito interessados rolarão a tela, e essas poucas almas motivadas encontrarão a base da pirâmide e obterão a matéria completa em todos seus detalhes”, acrescentava.
Em 1997, Nielsen reavaliou essa afirmação no trabalho ‘Mudanças na usabilidade da Web desde 1994’, ‘Changes in Web Usability Since 1994’ (http://www.useit. com/alertbox/9712a.html).
Ali, ele dizia: “Em 1996, eu disse que ‘os usuários não rolam a tela’. Isso estava certo naquele momento: muitos, se não a maioria, dos usuários só olhavam a parte visível da página e raramente faziam ‘scroll’ para abaixo da dobra (primeira tela). A evolução da Web mudou essa conclusão. À medida que os usuários experimentaram mais com páginas que têm rolagem, muitos passaram a fazê-lo. Porém, sempre é bom assegurar-se de que a informação mais importante apareça na primeira tela e evitar as páginas muito longas”.
Abaixo estão alguns links com banco de dados que podem ajudar nas reportagens sobre política/eleições e sobre Cinema:
- Banco de dados de políticos: http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/
- Transparência Brasil: http://www.transparencia.org.br/
- Mostra Internacional de Cinema: http://www.mostra.org/
- The Internet Movie Database: http://www.imdb.com/
EXERCÍCIO 1:
Utilize essas fontes de pesquisa e desenvolva um texto sobre as Eleições 2010 (utilizando os bancos de dados disponíveis acima) e outro sobre a Mostra Internacional de Cinema de 2010.
- A matéria de política deverá ser sobre o segundo turno das eleições (para presidente ou governador)
- A matéria sobre a Mostra Internacional de Cinema deverá ser 'uma prévia', ou seja, uma matéria que antecede o evento. Vamos falar dos destaques deste ano e do que foi destaque na Mostra de 2009.
* Desenvolva título, lead e mais um parágrafo sobre cada um dos dois assuntos.
EXERCÍCIO 2:
- A partir da tabela abaixo desenvolva um título, lead e encontre uma sugestão de entrevistado para sua matéria.
Tabela 2: - População de 65 anos e mais, Proporção de Idosos e Índice de Idosos, para o
Brasil e Regiões selecionadas do Mundo - 1950-2050
Brasil e Regiões selecionadas do Mundo - 1950-2050
Brasil
e Regiões selecionadas do Mundo |
1950
|
1975
|
2000
|
2025
|
2050
|
População de 65 anos e mais (em mil)
| |||||
Brasil
|
1.604
|
4.247
|
8.709
|
21.919
|
42.243
|
Países
menos desenvolvidos (*) |
66.644
|
118.027
|
248.221
|
561.749
|
1.163.054
|
Países
mais desenvolvidos(*) |
64.202
|
116.029
|
171.069
|
253.912
|
299.249
|
América
Latina e Caribe |
6.178
|
14.061
|
28.080
|
67.472
|
135.666
|
Sudeste
Asiático |
6.735
|
10.691
|
24.371
|
58.100
|
177.542
|
Europa
Ocidental |
14.373
|
23.513
|
29.151
|
41.749
|
46.918
|
Proporção de Idosos
| |||||
Brasil
|
3.0
|
3.9
|
5.1
|
10.1
|
17.8
|
Países
menos desenvolvidos(*) |
3,9
|
3,9
|
5,1
|
8,5
|
15,0
|
Países
mais desenvolvidos(*) |
7,9
|
10,7
|
14,4
|
20,9
|
25,9
|
América
Latina e Caribe |
3,7
|
4,4
|
5,4
|
9,7
|
16,8
|
Sudeste
Asiático |
3,7
|
3,3
|
4,7
|
8,5
|
22,6
|
Europa
Ocidental |
10,2
|
13,9
|
15,9
|
22,7
|
27,5
|
Índice de Idosos
| |||||
Brasil
|
7,2
|
9,7
|
18,1
|
46,8
|
92,9
|
América
Latina e Caribe |
9,2
|
10,6
|
17,2
|
41,1
|
83,7
|
Países
menos desenvolvidos(*) |
10,3
|
9,4
|
15,7
|
34,1
|
73,9
|
Países
mais desenvolvidos(*) |
28,9
|
44,2
|
79,1
|
133,1
|
169,3
|
Sudeste
Asiático |
9,4
|
7,7
|
15,0
|
37,0
|
115,3
|
Europa
Ocidental |
43,8
|
61,0
|
93,5
|
152,3
|
185,8
|
1, 2. 3
Atividade relativa a aula sobre Jornalismo de Dados na disciplina Produção em Mídia Digital.
Faça um Título, um Lead e procure na Internet dados de contato de um possível especialista para ser entrevistada para sua matéria sobre 'Distribuição etária da população por sexo no Brasil (2000 - 2035)'.
Para fazer esta atividade, leia o texto acima sobre 'Como escrever para a web', e sobre definição e estrutura da pirâmide Invertida, e faça a leitura dos dados contidos no gráfico abaixo.
- Título
- Lead
-------------
- Dados de contato e mini-currículo de possível Especialista para ser entrevistado.
- Nos diga também como você comprovaria a veracidade deste gráfico, e qual é a fonte destes dados.
Distribuição etária da população por sexo - Brasil 2000 - 2035
EXERCÍCIO 4:
- A partir da tabela abaixo desenvolva um lead, título e sugestão de entrevistado para sua matéria.
Tabela A2 - Países mais populosos em 2000 - Índice de Idosos - 1950-2050
Países
|
Índice de Idosos
| ||||||||||
1950
|
1960
|
1970
|
1980
|
1990
|
2000
|
2010
|
2020
|
2030
|
2040
|
2050
| |
Espanha *
|
26,9
|
29,9
|
35,0
|
40,2
|
71,3
|
117,0
|
138,5
|
174,3
|
239,0
|
293,1
|
311,4
|
Itália *
|
31,4
|
37,6
|
44,3
|
59,0
|
96,6
|
127,5
|
162,2
|
208,1
|
250,5
|
288,1
|
290,8
|
Japão *
|
13,9
|
19,0
|
29,4
|
38,4
|
65,1
|
115,2
|
145,5
|
187,8
|
202,9
|
216,3
|
229,6
|
Alemanha *
|
41,9
|
54,1
|
59,0
|
84,4
|
93,0
|
105,5
|
149,5
|
165,8
|
194,1
|
218,5
|
212,1
|
Ucrânia
|
27,9
|
29,3
|
36,6
|
55,8
|
56,6
|
79,6
|
106,3
|
117,3
|
150,2
|
168,3
|
195,9
|
Federação Russa
|
21,4
|
21,0
|
28,9
|
47,2
|
43,7
|
68,9
|
82,2
|
98,0
|
136,1
|
146,4
|
174,5
|
Polônia
|
17,8
|
17,2
|
30,6
|
41,7
|
40,0
|
61,8
|
76,9
|
103,5
|
135,5
|
143,1
|
167,6
|
Coréia
|
7,3
|
7,9
|
7,8
|
11,2
|
19,4
|
31,3
|
46,9
|
69,1
|
108,4
|
139,9
|
154,3
|
Reino Unido *
|
48,0
|
50,2
|
53,3
|
72,1
|
82,1
|
85,2
|
102,3
|
119,5
|
138,3
|
156,0
|
154,1
|
França *
|
50,1
|
44,1
|
51,8
|
62,7
|
69,1
|
85,2
|
95,3
|
116,6
|
136,7
|
152,7
|
152,6
|
Canadá *
|
25,9
|
22,4
|
26,0
|
41,4
|
54,1
|
67,4
|
86,3
|
108,6
|
133,2
|
142,0
|
140,0
|
China
|
13,4
|
12,4
|
10,8
|
13,4
|
20,1
|
27,6
|
39,8
|
60,2
|
90,4
|
130,2
|
138,5
|
Tailândia
|
7,1
|
6,1
|
6,5
|
8,8
|
13,6
|
23,1
|
34,5
|
51,0
|
81,6
|
116,5
|
137,4
|
Est. Unidos *
|
30,6
|
29,8
|
34,7
|
49,7
|
56,5
|
58,3
|
69,1
|
90,5
|
115,7
|
124,9
|
127,1
|
Myanmar
|
8,6
|
8,3
|
9,0
|
10,1
|
11,4
|
17,3
|
22,4
|
30,5
|
50,4
|
75,6
|
96,9
|
Turquia
|
8,6
|
8,6
|
10,7
|
12,0
|
12,2
|
20,6
|
25,6
|
36,7
|
53,8
|
74,2
|
96,7
|
México
|
10,6
|
10,2
|
9,2
|
8,4
|
10,3
|
14,2
|
20,8
|
32,1
|
49,3
|
74,2
|
96,6
|
Argentina
|
13,8
|
18,0
|
23,7
|
26,6
|
29,2
|
35,0
|
39,6
|
49,5
|
60,4
|
71,8
|
90,4
|
Vietnã
|
11,4
|
10,9
|
9,8
|
11,3
|
12,4
|
16,0
|
20,1
|
25,5
|
43,8
|
68,3
|
88,0
|
Brasil
|
7,2
|
7,6
|
8,7
|
10,9
|
12,4
|
17,7
|
24,8
|
36,5
|
54,8
|
70,2
|
86,2
|
Indonésia
|
10,1
|
8,3
|
7,2
|
8,2
|
10,8
|
15,4
|
22,3
|
30,3
|
44,7
|
65,3
|
83,0
|
Colômbia
|
7,4
|
6,7
|
7,4
|
9,3
|
11,9
|
14,4
|
19,0
|
29,6
|
46,4
|
64,9
|
80,2
|
Irã
|
13,7
|
9,3
|
7,5
|
7,4
|
7,8
|
12,1
|
16,8
|
21,3
|
34,6
|
54,6
|
80,2
|
Índia
|
8,6
|
8,6
|
9,0
|
10,5
|
11,9
|
14,9
|
20,7
|
30,4
|
43,4
|
60,3
|
77,3
|
Argélia
|
10,9
|
8,8
|
8,6
|
8,4
|
8,5
|
10,3
|
12,0
|
20,2
|
34,0
|
49,2
|
72,1
|
Egito
|
7,5
|
7,7
|
10,4
|
10,1
|
9,6
|
11,6
|
15,3
|
25,4
|
37,5
|
51,0
|
71,8
|
Filipinas
|
8,2
|
6,8
|
5,9
|
6,7
|
8,6
|
9,9
|
13,5
|
22,9
|
35,7
|
49,4
|
70,7
|
Bangladesh
|
9,6
|
9,1
|
7,7
|
7,5
|
7,1
|
9,1
|
12,1
|
19,1
|
29,2
|
43,3
|
69,0
|
Paquistão
|
14,1
|
9,5
|
6,8
|
6,5
|
6,8
|
7,6
|
9,4
|
14,0
|
24,6
|
36,5
|
49,3
|
Quênia
|
9,9
|
9,0
|
8,2
|
6,7
|
6,1
|
6,9
|
6,7
|
8,5
|
14,3
|
23,3
|
43,2
|
África do Sul
|
9,3
|
9,4
|
9,3
|
8,5
|
8,8
|
10,2
|
11,6
|
15,1
|
20,8
|
28,0
|
40,2
|
Nigéria
|
5,2
|
5,6
|
5,5
|
5,7
|
6,1
|
7,1
|
8,2
|
9,1
|
12,5
|
20,7
|
31,8
|
Tanzânia
|
4,8
|
5,0
|
5,1
|
4,9
|
5,4
|
5,7
|
6,1
|
6,8
|
9,4
|
16,5
|
26,8
|
Congo
|
8,7
|
6,6
|
6,3
|
6,1
|
6,1
|
5,8
|
6,1
|
6,6
|
8,3
|
12,9
|
21,7
|
Etiópia
|
6,8
|
5,7
|
5,6
|
6,6
|
6,5
|
6,2
|
6,1
|
6,6
|
8,4
|
12,8
|
21,2
|
Fonte: United Nations, 1999
* Países desenvolvidos mais ricos.
(EXTRA) Livro: Guia de Estilo Web (Página 198 - Tipo de leitores)
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